quarta-feira, 17 de abril de 2013

Como dar más notícias na Neonatologia, ou seja, no comecinho de uma vida? Como transmitir a um pai ou mãe que o seu filho terá limitações ao longo de toda a sua vida? Como explicar que um erro da natureza o ligará a uma máquina para ser alimentado, sempre? Dizer "ad initio" que a esperança de ser independente desta alimentação artificial é mínima, que o transplante de intestino tem mortalidade elevadíssima e que a mãe terá, certamente, de abandonar o seu emprego para se dedicar em exclusivo a uma filha que precisará de vigilância e cuidados especiais e diferenciados (quase) constantemente, bem como de múltiplos internamentos? Demasiada informação, positivamente sem "sugar coating", mas negativamente excessiva, para quem, nesse momento, não a ouve, não consegue processá-la, porque é mau demais, porque não pode ser, porque "porquê eu?", porque "por que é que os outros meninos mamam e a minha não?" e isto logo no início da conversa... Conheço meninos mais crescidos (4-5 anos) com a mesma patologia, sei bem o que eles passam, tempos infinitos internados, a revolta de não poder ir brincar quando bem entendem, a dor de mães que de dedicam a tempo inteiro aos seus filhos, com uma nesga ínfima de esperança na resolução... Um, em especial, já mora no meu coração desde que entrei na Pediatria. E há uns dias, ao ver uma mãe, no princípiozinho desta caminhada,  receber toda esta informação assim, despejada, de supetão, não pude evitar os arrepios, a lágrima a molhar o olho, a náusea e tontura de ver espelhados, na face daquela senhora, descrença, medo e pânico. Uma mãe completamente atarantada e abalroada, sem preparação prévia, e quando ela ainda nem sonha o que verdadeiramente passará. Desde então vejo a M. todos os dias e todos os dias tento confortar aquela mãe, mas sinto-me inútil e insignificante perante o desespero dela, perante as dúvidas prementes que me coloca "como dou banho?", "como irá para a escola?", "como explico isto à mana?"... Muitas vezes só sorrio e passo-lhe a mão no ombro dizendo "um dia e um passo de cada vez mamã"... Parece vazio não parece? É cheio do que quero ajudar, mas não sei mais, nem como.

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