terça-feira, 1 de novembro de 2011

Safira

Se há estação de televisão que tem reportagens decentes é a Sic. Mas ontem fiquei profundamente desiludida. A reportagem, seguida de debate, era sobre uma criança, a Safira, a quem tinha sido diagnosticado um tumor de wilms - um dos tumores malignos renais mais frequentes da infância -  e a quem os médicos do IPO tinham indicado uma terapia de 27 sessões de quimioterapia pós operação para a sua cura, terapia esta que os pais recusaram, preferindo outra terapia no estrangeiro.
E o que me indignou não foi propriamente a opção dos pais, foi toda a reportagem ter sido dirigida dando a ideia de que as terapias mais comuns - quimioterapia e radioterapia-  não são assim tão eficazes e se calhar o melhor é mesmo ir procurar outras alternativas que aquelas não interessam, e que, de certa forma, são prescritas pelos médicos quase como castigo ou porque é divertido fazer sofrer as criancinhas. O que fica da reportagem e que aliás se pode verificar nos comentários da página da Grande Reportagem no Facebook, é uma visão absolutamente maniqueísta de tudo - os pais são os bons da fita e os médicos do IPO são os maus, os causadores de toda a desgraça no mundo.
Indignou-me sobretudo por saber que as pessoas, sobretudo os pais de crianças que estão neste momento a vivenciar toda a experiência dolorosa que é ter um filho com uma doença oncológica, depois desta reportagem, irão questionar tudo aquilo e irão pôr em causa todos os pareceres médicos que chegarem do IPO. É certo que é bom ouvir sempre várias opiniões, mas, caramba, estas opções dos médicos são baseadas em estatísticas, em dados concretos de sucesso. Será que isto não vai custar alguma vida? Será que muitos pais não vão procurar outras terapias, não tão eficazes, para fugirem às quimioterapias e às radioterapias, baseados no caso desta menina (que é apresentado como um caso de sucesso, apesar de ainda só terem passados 16 meses desde o diagnóstico, o que não impossibilita o aparecimento de recidivas)? Eu, que confio a cem por cento nos médicos do IPO, tenho algumas dúvidas.

By Kitty Fane, in O amor é um lugar estranho


Dado que as minhas palavras poderão ser consideradas não isentas, faço minhas as palavras da Kitty Fane. Esta é a minha opinião. Minha, que trabalho todos os dias para o bem, para a saúde e sempre contra o dano das crianças, que quero tratar o melhor possível.  Fundamento-me e alicerço a minha prática em estudos científicos válidos, mas nunca voltando os olhos às vontades dos pais, nem ao ALIAR a medicina alternativa, sempre que esta não prejudique o tratamento de base.

2 comentários:

  1. A comunicação social deverá informar os cidadãos e não colocar-se de um lado da história.
    O resultado da reportagem levou-me à seguinte constatação: recusar todos os tratamentos médicos e recorrer aos alimentos e medicinas alternativas. Ora parece-me que o resultado final poderá trazer amargos a algumas famílias e inevitavelmente algumas mortes.
    Enfim ...
    Tive um familiar próximo que teve um problema de saúde e se não fossem os inúmeros tratamentos ... hoje já não a teria a meu lado. Como é óbvio a sua alimentação foi substancialmente melhorada ou seja, deixou de comer "porcarias". Mas não deveria ser essa a nossa base de alimentação!?!?!?
    Continuação de um excelente trabalho
    Abraço*

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  2. Concordo plenamente. Nós existimos para pegar na Ciência e levá-la às pessoas. E não nos baseamos num único estudo, ou numa descoberta recente. São anos de investigação e de experiência. E tudo isso com os nossos pós de humanização e de tentar o menor dano, num tratamento que é de si muito duro, constituem o plano terapêutico traçado. Claro que há elementos de medicina alternativa que ajudam, nem que seja como placebo, mas têm de ser sempre aliados. É errado chamar médicos responsáveis pelo IPO e tentar fazer parecer que eles queriam fazer o mal com o plano de QT estipulado e que não ouviram os pais. Eles têm muita experiência no que fazem e incluem sempre os pais em todas as decisões terapêuticas, mas sendo o menor incapaz de decidir por si, nós somos os advogados dos melhores interesses da criança à luz do que está comprovado cientificamente.
    Obrigada pelo comentário *

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