terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Eu sei que sou um pouco chatinha, sempre a falar do meu trabalho. Todos os médicos o são um pouco. O nosso trabalho é muito absorvente, ocupa uma fatia importante da nossa vida dentro e fora do hospital (ninguém deixa de ser médico fora das paredes do hospital, é-se médico 24h por dia...) e há uma imensa dificuldade em desligar. Queria apenas deixar mais uma palavrinha sobre o desaire que andam as urgências. O nosso Primeiro quer que deixemos de ser piegas e nos dediquemos ao trabalho sem lamúrias. Pois senhor Primeiro nós já o fazemos há muito. E somos tão pouco piegas que quase não respiramos para conseguirmos ver o volume de doentes que vemos em cada turno. Com 70 a 90 meninos na sala de espera, pais desesperados e a tensão imensa que isso nos coloca nos ombros, não há como parar para ser piegas. Nem há como parar para fazer xixi quanto mais... Durante a noite de hoje chegaram a ser necessários polícias perto da caixa das fichas para assegurar a nossa segurança durante o atendimento. Nós, que não somos suficientes para ocupar tosas as salas de atendimento na urgência (elas são 6, nós somos 5, com um de nós em OBS - observações), temos de ouvir coisas hilariantes. Uma mãe, que invadiu a zona de atendimento pela sala 1 (a que estava vazia) gritava exasperada: "vêem eles não estão cá, estão salas vazias, devem estar todos a jogar poker". Pois que não. Estávamos nas salas contíguas à que a senhora encontrou vazia, a ouvi-la enquanto trabalhávamos loucamente e ainda a ouvir berros que nos chamavam de nomes menos próprios. O respeito pelo médico, deixou de existir em mil nove e setenta. Não me admirará do dia em que tiver uma arma apontada a testa. Mas, contudo, incentivo a reclamação no livro amarelo. Pois que sim, reclamem, é a única forma que temos de demonstrar que somos poucos. Embora essa demonstração de pouco sirva pois para os senhores administradores nós somos mais que suficientes pois 1 médico = trabalho por 2 ou mais... 

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