quinta-feira, 9 de maio de 2013

Dia de sol na Unidade. 
É todos os dias dia de acalmar o choro com o toque, colocar a apaziguadora chupeta, melhor amiga na hora da malvada dor, enrolar na mantinha (manta de amor tricotada pela avó, manta com o anjo da guarda ou apenas com o nome escrito, todas cheias de calor sentido), falar baixinho, não perturbar, deixar no escuro, não acordar quem dorme, enfim, tratar com o imenso cuidado de nunca fazer o mal, nem que esse mal sejam movimentos bruscos. É quase um bailado entre fios de monitorização. A suavidade na atuação que se quer rápida e certeira. Hoje foi mais um dia de choros sentidos que se tentam consolar, de veias minúsculas e bailarinas que fogem às mãos das enfermeiras (fadas treinadas), de respirações rápidas, corações agitados, membros movimentados no ar ao mais pequeno som, barriguinhas insufladas, pele amarela a precisar de solário e de pais com olhos de tristeza misturada com esperança, que esperam e desesperam por que o tempo passe, que os seus bebés aprendam a mamar, que cresçam, que saibam respirar sozinhos, que possam finalmente ser só seus nos cuidados... E o dia terminou com o sol que foi o nascimento de uma menina após apenas 27 semanas de gestação. Apesar de ter tido de nascer tão cedo, nasceu bem, forte, chorosa como se quer, a aguentar-se e agarrar-se à vida com bracinhos pequenos mas capazes, no alto das suas 900 gramas. Quatro mãos ajudaram-na habilmente no momento mais decisivo, a primeira hora, a golden hour. Agora tem meses de crescimento pela frente, em que tudo será feito para que o caminho seja o menos rochoso possível e as marcas deixadas as mais ténues, o mais imperceptíveis possível, na vida inteira que tem pela frente. Que sejam muitos dias de sol...

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