terça-feira, 5 de junho de 2012

Continua o achincalhamento público aos médicos. O senhor Paulo Gaião, que não faço ideia quem seja, e tão pouco me importa, é capaz de escrever no Jornal Expresso "Na verdade, ao longo dos últimos anos, para satisfazer os interesses dos médicos, os portugueses tiveram menos e pior saúde." Ler mais: aqui. Saiba, senhor mal informado, que temos um SNS elogiado e invejado no Mundo inteiro. Saiba que somos um case study nomeadamente na minha área (Pediatria / Perinatologia). Vamos estragar o pouco que temos de bom? E ter cuidado em abrir vagas, fazer uma selecção, que pode não ser justa, mas é a possível, permitiu controlar o desemprego nesta área. Preocupação que não houve em muitas outras (ensino, direito) e que levou à situação vergonhosa que temos actualmente, com centenas de desempregados destas áreas, muitos sujeitos a empregos pouco dignificantes em relação ao seu grau de formação. Não é isto pior que seleccionar à partida?
Por outro lado, assistimos à contratação de médicos através de empresas, que não se preocupam com a famigerada qualidade a que o senhor Paulo Gaião se refere. O melhor preço-hora (Reportagem aqui). É este o critério. Agora pergunto, quando vai a um hospital público quer ser tratado pelos melhores ou pelos mais baratos? E que mal fizemos para sermos funcionários sem qualquer perspectiva de carreira? Sem perspectiva de progressão? Contratados à hora como picheleiros (com todo o respeito), mas pior pagos que estes, quando lidamos com VIDAS. Há tanta revolta nos gestores contra nós porquê? Enraizada naquela crença antiga de que o médico era o mais rico e privilegiado da povoação? Não são precisas estas medidas para serem vocês, gestores, os que agora mais dinheirinho têm no bolso. E não à conta de horas de trabalho e de dedicação, noites sem dormir, famílias desfeitas... É um desânimo só, ser interna assim... Não há perspectivas, não há carreira a construir e no entanto trabalho horas a fio, algumas horas nem me são pagas, esforço-me todos os dias até ao tutano, sem nada para almejar... O que é que eu acho que acontecerá com esta medida? A debandada maciça para o privado (enquanto este não rebentar também). Não nos julguem como materialistas, somos apenas profissionais, e falo por mim, amo o que faço e faço-o pelo Serviço ao outro, mas esta é a minha profissão, tem de ser remunerada na medida do esforço e risco que acarreta. O meu sonho é trabalhar no público, no meu país, mas para ser desrespeitada desta maneira prefiro sair de Portugal.

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