Entretanto o trabalho acordou-me. Regressada, e ao mundo duro da Oncologia Pediátrica. Dor excruciante presenciada a cada passo. Não devia ser permitido. E nós, em muitos casos, felizmente, estamos para curar, mas noutros, também muitos, infelizmente, para paliar. E saber paliar, com actos, palavras, olhares e fármacos é muito difícil. É preciso muito mais que um curso de Medicina para o saber. O pior até agora? Lidar com a negação. E com a luta que os pais travam para manter os filhos acordados e com eles quando os filhos só querem e precisam de descansar da dor. Quando os pais são da nossa área, a situação complica com a luta interna a que assistimos. Uma luta entre o pragmatismo científico e o amor cego e incondicional de pai.
Para mim tem sido uma grande aprendizagem diária. Um esforço diário e uma luta diária contra a vontade de desabar. Um turbilhão de emoções que me desafia a saber domá-lo.
À querida L. (a travar uma batalha contra um maldito tumor do sistema nervoso central que demorou demasiado tempo a deixar de dar sinais da sua presença) que ontem vi na consulta e que, quando se ouviu referenciada como doente num relatório que a mãe lia, respondeu "eu não sou doente, eu fui doente", obrigada. Obrigada pelo sorriso, pela vontade de viver, pelos planos de milhões de idas à Kidzânia. Obrigada por seres um exemplo do lado mais doce da Oncologia Pediátrica.
Sem comentários:
Enviar um comentário