Eu encaro o meu trabalho como um serviço. Eu estou lá para servir o outro. Baseando-me nos princípios básicos de ética médica, de autonomia, não maleficência, beneficência, justiça e equidade. Isto torna-se bastante mais fácil se fizermos o seguinte exercício. Se fosse eu, do outro lado, com o meu filho, assustada por vê-lo doente, sem saber o porquê, cansada de esperar por uns minutos de atenção, como gostaria de ser tratada? Isto torna-se mais difícil pelo volume de doentes que temos para ver e por não podermos evitar, por mais que nos esforcemos, longas esperas nas urgências.
Eu sei que a minha forma de exercer pode não agradar a todos. Eu sei que falho em alguns pontos porque sou humana. Eu sei que às vezes estamos tão cansados, que é muito difícil ter a calma e simpatia que é preciso ter. Mas temos de lutar por pensar que podemos ver 20, 30, 40 doentes num dia, mas para cada um deles nós somos únicos. Somos a pessoa por que eles esperaram e que querem que os ajude. Não somos santos milagreiros, somos humanos que exercem a ciência baseada na evidência do agora, do que se conhece nos nossos dias. E há que perder tempo a explicar as coisas, a acalmar, a ser humano. Porque medicina sem humanização não existe. Porque não há robots. Porque cada mãe com uma cara mais torcida tem um motivo para a ter. É preciso perguntar "o que a preocupa? há algo que queira que lhe explique melhor?". Há que entender. Também vos digo que há comportamentos de pais que não entendo muito bem e não tolero... falta de respeito, de educação ou agressividade saem dos limites do aceitável. Tal como respeito os seus direitos e empatizo com as suas preocupações, espero respeito pelo meu trabalho, pela minha formação e pela minha pessoa. Porque só no exercício de uma verdadeira relação médico-doente se conseguem os melhores resultados de parte a parte.